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sexta-feira, 24 de abril de 2009

Eu, Paulo, sobrevivi!






Meu  nome é Paulo, e tive avch no dia 18 de fevereiro de 2007, um domingo de carnaval. Tinha 49 anos. Estava magro, caminhava muito, mas fumava bastante e não costumava ir ao médico. 

Depois de uma noitada assistindo filmes até tarde, acordei cedo, creio que por volta de 9 horas, contrariando meu hábito de dormir até quase meio-dia, principalmente em um domingo.
Tive uma dor de cabeça fortíssima, latejante, coisa que nunca me aconteceu, nem quando eu bebia e tinha ressacas fenomenais. Devido à dor de cabeça, não acendi o cigarrinho de costume e tampouco quis tomar café. Fui ao banheiro, fiz xixi. Minha mulher disse que a têmpora estava vermelha e até me deu uma toalha umedecida em água gelada, para aliviar.

Voltei a me deitar, encostando a cabeça no braço do sofá. Creio que já havia passado mais ou menos meia hora desde que despertara, quando me deu nova vontade de fazer xixi. Aí, quando fui me levantar, a perna esquerda não me obedeceu mais. Erguendo-me com o impulso, dei dois passos, capenguei e caí em cima de almofadões que estavam no chão da sala. Tentei me apoiar no braço pra levantar e a perna parecia boba. 

Minha filha gritava: "pai, pai, que foi?" E minha mulher falou: "chama o resgate" (tendo já presenciado o pai dela ter vários AVCs, ela já deduziu).

Minha mulher insistiu pra que eu ficasse quieto, não tentasse mais levantar. Então acabei mijando numa bacia.
Primeiro ligaram pro Samu e depois pros Bombeiros. Os dois socorros chegaram quase ao mesmo tempo. A paramédica viu a pressão e me mandou apertar as duas mãos dela. E vi que fizeram sinais entre eles e falaram uma sigla que talvez fosse AVC, nao tenho certeza. Me espantei que escutei pressão 24 (não me lembro do outro número). Como o elevador do nosso prédio é pequeno, e só havia maca comum, me colocaram meio amarrado numa cadeira pra descer. Apenas no hall de entrada do prédio, me colocaram na maca. 

Bem na hora em que estavam me colocando no carro dos bombeiros, chegou a dra M arice, médica, sobrinha de minha mulher. Em menos de dez minutos, chegamos ao PS da Santa Casa de SP. O lugar estava lotado. Típica cena de hospital público em feriado. Corredores cheios de pacientes nas macas. Mediram minha pressão, que melhorou um pouco: 22. Pedi pra fazer xixi e deram um saco plástico. Parece que colocaram soro e me deram algum remédio.

Dali a mais ou menos meia hora, minha dor de cabeça piorou muito, comecei a tremer e a boca entortou completamente. A tremedeira era muito forte, a ponto de terem de me segurar pra nao cair da cama. Aí apaguei.
Dessa parte em diante, quem vai contar é a minha mulher, porque a minha história é muito longa. Foram 35 dias em coma, 60 na UTI e 5 meses no hospital.

Tem dias que acordo e ainda penso se estou em um pesadelo do qual não desperto quando me vejo dormindo em um colchonete no chão e uma cama hospitalar ao lado, onde ressona meu marido. Me levanto assustada e me dou conta de que é hora de verificar a pressão arterial e dar as medicações. Respiro fundo e vejo que não é um pesadelo. Aí penso: "pesadelo foi o que vivemos há pouco mais de dois anos. Agora estamos em casa. Ele já fala, conseguimos conversar e alimenta-se quase que normalmente".

Depois desse trecho contado em primeira pessoa por PP (Pepê como é conhecido por causa das iniciais do nome), um jovem médico residente saiu correndo com a maca para o setor de emergência. Provavelmente estava convulsionando e lhe deram um diazepan. E eu precisei sair de perto. 

Enquanto aguardava por notícias lá fora, minha sobrinha procurava me tranquilizar, dizendo que poderia ser um coágulo, uma artéria que obstruiu e logo se dissiparia... 
Eu nem sabia no que pensar. Pressenti algo muito grave e telefonei para todas pessoas queridas que localizei pela agenda. Entre os que correram para o hospital, estavam Angela, minha amiga mais solidária, e o casal de amigos quase vizinhos, Rivaldo e Juraci, que conhecem PP desde que ele tinha uns 16 anos. Minha filha também telefonou para uma amiga dela, que foi pra lá com o namorado. 

A antesala do PS mais parecia o saguão da antiga rodoviária de SP, com cadeiras de plástico, um bebedouro e uma tv mal sintonizada na parede. Todas pessoas olhavam pras imagens que se moviam e ninguém conseguia prestar atençao.

Não tenho idéia de quanto tempo se passou naquela angustiante espera por notícias. Casal de amigos da minha filha trouxe café, refrigerante e um lanche. De repente, a médica nos chamou. Mostrou a tomografia e disse que PP tinha um sangramento imenso, que ocupava toda parte superior e o lado direito da cabeça. Era uma situação de emergência, do qual tentariam tirar por uma cirurgia. Falou que só iniciaria os preparativos do centro cirúrgico e os procedimentos quando eu conversasse com a assistente social e assinasse autorizaçao. A doutora disse algo como: "Vamos ter de abrir para diminuir a pressão craniana. Será uma tentativa. É uma situaçao muito grave, nao garantimos resultados. Vamos entrar com ele, nao sabemos se sairá. E se sair, nao sabemos como ele ficará, se precisar, teremos de sacrificar parte do cérebro para preservar a vida. Mas nem isso garantimos".
Estava escurecendo quando nos informaram onde era o prédio do centro cirúrgico. O complexo hospitalar é imenso, ocupa uma quadra inteira. Pela primeira vez percorri aquele espaço em que construção moderna se intercala a paredes de tijolo a vista com torres que lembram Notre Dame. Chegamos a um corredor mal-iluminado, com o chão de cerâmica vermelha. Teto muito alto, que aumentava em nós a sensação de desolação. Daquele lugar, me lembro de ter telefonado para outros amigos e também para a família dele.

Minha sobrinha retornou com o marido dela, trazendo agasalhos. Disse que devíamos nos preparar pra passar a noite naquela espera. Eu fiquei sentada nos bancos do andar térreo, enquanto minha filha subiu com a prima. As duas ficaram o tempo todo na porta do centro cirúrgico. Previsão era de que demorassem pelo menos de 4 a 5 horas. Nosso medo: que a porta se abrisse antes desse tempo. Felizmente isso não aconteceu. Creio que pouco antes da meia-noite, a neurocirurgiã abriu a porta e informou que terminaram. Com a roupa respingada de sangue até nos sapatos, contou pra minha filha que fora a maior hemorragia que já viram. Agora, nos restava voltar pra casa e retornar na manhã seguinte, no horário de visitas.

17 comentários:

sou mais uma disse...

pois bem, ter um vc , nao é ter uma doencinha qualquer, a gente q passa, sobrevive, sabe o q é isso..pós tdo, nos sentimos carentes, solitarios, mtas vezes excluidos ate do rol familiar e de amigos, ns ignorando como se fosse uma doença contagiosa...admiro teu carater e garra por ter vencido mais essa... q deus te de mta luz para q nao ande mais na escuridao da vida. q logo, logo sairá de tdo ... a vida é linda, vamos viver , a gente merece. deus te abençoe

andrea disse...

que historia! Parabens, Suely. Por sua coragem e amor incondicional. Deus abencoe voce, o Paulo, sua filha e todos os amigos que estiveram (e ainda estao) ao lado de voces. Eh nessas horas que a gente entende o quanto a vida eh efemera... Mil beijos!

Anônimo disse...

Que ótimo esse blog a que vocês, Bete, Elaine e Suely, estão dando início com depoimentos comoventes e que relatam momentos enfrentados com muita coragem – será um ótimo fórum para a troca de experiências entre os sobreviventes de AVC, familiares e amigos. Suely, é inacreditável que já tenham se passado 2 anos. Aquele dia foi tão marcante que continua na memória de vocês bastante aceso, com detalhes do desenrolar dos acontecimentos que eu até então desconhecia. Olhar para trás ajuda a seguir em frente pois mostra o quanto vocês já conquistaram – o que não é pouco! Parabéns!

LS

Ana Elisa disse...

Suely, agradeço a Deus por terem colocado vocêm em minha vida, pena que numa situação difícil, mas que me deu e me dá muita coragem e muito aprendizado em minha vida pessoal e profissional. Tive a oportunidade de acompanhar durante um bom tem o PP, e ver o quanto tens garra, coragem e foça de vontade. E quão brilhante fora a evolução desde que o conheci (pois ainda estava em coma) e até quando vim embora que já estava falando e reconhecendo bastante e com um ótimo humor.
Quero acima de tudo como pessoa e profissional, parabenizar a Suely, pelo amor que sente pelo marido, pela garra, força de vontade, enfim pela mulher que é, ao PP, pela grande melhora e vontade de viver e também a Paula.
Vocês são merecedores e terão muitas melhoras e evoluções, que ficaram dentro dos nossos corações.
PARABÉNS E QUE DEUS CONTINUE ILUMINANDO A VIDA DE VOCÊS!!!
Um grande abraço... Ana Elisa!!!!!

Unknown disse...

Nossa! É vendo esses testemunhos que cada vez mais aumenta minha fé em Deus. Só Ele é capaz de realizar o impossível.
Agradeço a vocês PP e esposa pela oportunidade de ver mais um exemplo de força, esperança, união e muito amor num caso como o de vocês, como disse a Eliane, AVC não é uma doencinha, só quem já passou por ela é que sabe o tamanho da gravidade.
Peço de coração que Deus continue abençoando a vida de vocês e que pessoas como eu SOBREVIVENTE DO AVC possa ter esse testemunho como exemplo de superação.
Um forte abraço ... cris

SUELY disse...

Ana Elisa,
VC nao faz idéia de como nos ajudou e de como suas orientaçoes foram importantes nao só para PP, como para todos os pacientes a quem atendeu durante sua especializaçao em SP. Demonstrou que é uma verdadeira profissional de saúde, vocacionada e abençoada. Tenho plena certeza de que é uma pessoa iluminada e encontrará seu lugar ao Sol.
Suely

Anônimo disse...

Pelo que sei, dois parentes por parte de meu pai passaram por experiências desse tipo, mas é algo longe de mim. No entanto, acompanho com esmesurada atenção tudo que se refere a esse tipo de doença e me solidarizo com vocês que diretamente estão envolvidos nesse drama. E é bom registrar, é como um bálsamao e aos mesmo tempo divide as apreensões. Parabéns pela coragem....
NELSON

BETE disse...

SUELY, em primeiro lugar agradeço a DEUS,por te-la posto em nosso caminho,uma pessoa amiga,solidária,exemplar.de muita força e determinação,creia que a batalha será vencida,pois o eterno DEUS não desampara seus filhos,DEUS a abençõe imensamente.

PauloCoutinho disse...

Suely, quando PP sofreu o AVC o meu completava exatamente dois anos,no mesmo 18 de fevereiro!! Parabéns ao casal pela força e determinação

solitária,mas confiante disse...

SEI BEM QUE O PP IRÁ SE RECUPERAR RÁPIDO,POIS TEM UMA ESPOSA HIPER DEDICADA, DEUS OS ABENÇÕE.

Yoko news disse...

Olá Suely, minha mãe sofreu um AVCH há um ano e 2 meses.... como disse, houve erros médicos.. fomos desenganados pelo médico, dizendo que o quadro era irreversivel e ela estava com morte cerebral... sem ao menos fazer um exame... só de olhar para ela,..daí passou por uma cirurgia,de descompressão... o dela foi na região do cerebelo... por causa da pressão intracraniana, utiliza um dreno subcutâneo... mas até estabilizar, houve infecção no dreno, meningite por causa disto, depois foi para o HC de suzano, houve uma necrose em cima da válvula, infecção novamente, cirurgia para retirar o dreno, cirugia para colocar o dreno...
05 cirurgias no cerebro, 04 vezes na UTI, 15 dias em coma, 06 meses de internação no hospital.
Agora está em casa, sendo cuidada principalmente por meu pai, e uma enfermeira... eu cuido de manhã e a noite.. minha irma aos fins de semana...
Ela ainda não mexe o corpo... não houve isquemias no cerebro, mas os neurologistas não sabem dizer ainda qual a extensão, gravidade do AVC. às vezes ela responde, está consciente de tudo que acontece ao redor.. da risadas quando façouma brincadeira.. gosta de assistir a novelinha da tarde...
enfim, muita esperança e luta por um longo caminho a seguir...

Anônimo disse...

meu pai teve um avc a dois mesês, foi no dia 25 de maio de 2009. estamos passando por momentos dificeis. pois ele não reage a nada. mais lendo esse testemunho me fortaleçe muito e espero em DEUS. É DIFICIL DEMAIS.

Anônimo disse...

tive um avc isquemico no tronco cerebral.Os médicos desenganaram e disseram que eu nunca mais ía andar.graças a DEUS
com 1 m~es e meio,já estava andando e falando,lógico que não é igual a antes, mas já é uma grande conquista.Quero melhorar mais e mais. nunca desista .Tente melhorar sempre....

Anônimo disse...

minha mãe tb sofreu um AVCH, dia 16/12/09, está em coma, respirando com ajuda de aparelhos, mexe pouco, está com pneumunia, não está sendo facil, mais eu tb tenho esperança e fé em Deus que ela vai sair dessa, pq ela é muito guerreira, sempre foi.
só que a saudade é imensa.....

Odele Souza disse...

Querida Suely,

Um depoimento de dor e amor. Que dias difíceis os que vocês viveram. Que bom que tinham pessoas amigas por perto e que essa pessoas continuam presentes.

Desejo que você continue
a ser essa mulher forte e essa pessoa agradável, simpática, amiga. O sofrimento não lhe tirou a delicadeza e por isso é sempre um prazer te ler e estar em contato com você.

Um abraço carinhoso pra você, o Paulo e para sua filha.

dair j silva disse...

estou passando por momentos muito difisio meu irmão esta no segundo avc primeiro o esquemico agora emoragicoñ faz 20 dias hoje ja esta encasa mais n fala ñ abre os olhos quando abre e muito pouco tempo movimenta o lado esquerdo so moro numa cidade pequena sem recursos o medico e um crinico e geriata ñ quiz encaminhalo para outra cidade que tivesse uti ñ sei oque faser qual medico prcurar ja estou ficando muito desanimada sei que sente muitas doresñ sabe farlarfica enqieto a cabeça parese ertar pegando fogo e cardieco n~pode tamar o medico diz que ñ pode ficar tomando analgesicos por fafor me ajuda o que devo fazer neste momento de desispeiro meu nome e dair j silva fica com deus 24/09/2012

Unknown disse...

Bom dia!
Hoje faz exatamente uma semana que recebi a noticia do Avc de minha mãe no dia 11/12/2014. ela hipertensa foi para o interior da Bahia e lá teve uma queda dentro do mercado, socorrida e medicada em uma farmácia, não foi diagnosticado o princípio do Avc, então voltou para vitória-es de taxi 08:00hs de viagem e por volta de meia nite foi socorrida pela neta que foi viitá-la e percebeu "algo estranho". Levada para o hospital, fui informado do quadro e vim do Rio de janeiro. Estamos a uma semana na UTI, a tomografia mostrou um grande avc isquêmico do lado esquerdo, que evoluiu para hemorrágico. Ela não fala e não mexe o lado direito, esta conciente alimenta-se por sonda e aguardamos o equilíbrio da pressão para ir para o quarto. AQUI antecipo o meu "testemunho", ela vai sair curada, andando e falando, contra todos os prognósticos médicos eu creio no Deus de Milagres que esta operando na sua vida. Não é fácil vê-la naquela situação, estou sofrendo muito como filho. São muitas perguntas se resposta, uma busca frenética por informações na internet e paginas abençoadas como esta. Não me descanso com o depoimento de u pessoas foram pior ou tiveram em pior situação. Convido a todos a não concordar com oque os teus olhos mostram, não ligue na terra. A palavra de Deus diz que quando concordamos na terra é ligado no céu, não concorde no seu coração sustente a visão da cura, pois vai tirar a força do mal e o bem vai vencer.

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