Sou advogado e tenho 47 anos. No fim da tarde de um dia normal de trabalho, encontrava-me eu em minha sala, lendo uma sentença recém-publicada quando, de súbito, senti forte dor na cabeça, precisamente localizada no lado direito, acima da orelha. Era como se alguém tentasse introduzir, por ali, um objeto pontiagudo. chamei minha secretária para informá-la do fato pois, de tão inusitado que era, pressenti que algo pior pudesse se suceder.
Tomei um comprimido de parecetamol e segui minhas atividades por mais alguns minutos até que, experimentando certo alívio, tomei o rumo de casa, dirigindo normalmente meu carro pelos caminhos que percorro há cerca de 20 anos.
Já em casa, e depois de alguns minutos de repouso, levei meu filho à faculdade, retornei, jantei normalmente e, por volta de 22:00 h., saí, novamente, dirigindo para apanhar meu filho na faculdade.
Chegando em casa fui para a cama de onde, assisti à televisão por alguns minutos, quando então virei para o lado, decidido a dormir. Foi quando a dor que sentira no fim da tarde retornou, no mesmo local, mas, dessa feita, mais forte.
Levantei, tomei dois comprimidos de Advil, e procurei dormir. Lembro perfeitamente de que adormeci sentindo dor.
Dia seguinte, despertei na hora de sempre, sentindo o lado direito da cabeça como se ali houvesse uma espécie de “trauma”; não era propriamente dor. O que eu sentia, assemelhava-se a uma “mágoa”, como se, na véspera, tivesse ali sofrido um golpe, ou algo parecido.
Tomei banho e, quando procurei o que vestir, percebi que meu guarda-roupa estava muito estranho. Ele não continha as camisas que procurava e, no lugar delas, havia outras, que eu não conhecia. Minha visão estava alterada.
Debalde, como houvesse compromissos a cumprir, peguei meu carro e tomei o rumo do trabalho. A identidade dos caminhos (os mesmos, há praticamente vinte anos), corroboraram o acerto do deslocamento sem incidentes. Mas, quando tentei estacionar, subi com a roda dianteira direita sobre o meio-fio.
Liguei o computador, e notei que não conseguia ler os e-mails. Comecei a ficar ansioso (dada a carga de compromissos que tinha a cumprir ainda naquela manhã), e senti, novamente, uma dor lancinante no lado direito da cabeça.
Um amigo me conduziu ao hopital, de conde fui encaminhado, em emergência, para tomografia. Eu havia sofrido um AVC.
Já estabilizado, na UTI, fui informado de que era portador de MAV (má-formação artério-venosa), e que tanto fora responsável, em parte, pelo acidente vascular-cerebral. O prognóstico era bom; retornaria eu, às minhas atividades, em aproximadamente uma semana (não sem permanecer por três dias internado na UTI, e mais três hospitalizado), mas, em semanas, deveria retornar a exames para marcar um procedimento a que denominam “embolização de artéria” (algo semelhante à colocação de um”stend”, através de cateterismo.
Tive alta em aproximadamente cinco dias e retornei às minhas atividades. A visão retornou à normalidade, uma vez que o organismo tratou de absorver o hematoma que comprimia o nervo ótico. Tratei, então, de marcar os exames necessários à realização da embolização. Submeti-me a uma angioressonância magnética craniana, cujo resultado, levado à equipe de neurologistas que me assistia, confirmou a necessidade da embolização.
O procedimento foi marcado para o dia 26 de setembro, quando, pela manhã, segui sozinho ao hospital, cuidei dos procedimentos burocráticos de internação, e me preparei para o exame, que requer anestesia. Recordo-me de que, Depois disso, e passado um tempo que não posso estimar, fui informado pelo neurologista que me atendia, de que seria submetido a cirurgia de emergência, fois sofrera uma hemorragia que requeria urgente intervenção. Chegou o médico a indagar sobre a localização de minha residência, pois ansiavam pela chegada de minha mulher, a fim de obterem autorização para o procedimento.
Uma vez consciente, fui informado de que permanecera quatro dias em coma induzido. Aparentemente, minhas funções estavam normais, pois falava, ouvia, reconhecia as pessoas, raciocinava normalmente, respondia a estímulos básicos, e enxergava, embora com alguma dificuldade pois perdera a visão periférica mercê da extração da massa encefálica que envolvia a MAV.
Cinco dias depois, encontrava-se convalescendo em casa, para, depois de mais 30, retornar às minhas atividades profissionais com poucas restrições (aponto a visão, e uma certa lerdeza na articulação de determinados raciocínios, e na formação de memória visual, como as maiores delas).
Meu tratamento resume-se à ingestão diária de anticonvulsionantes, e acompanhamento médico. Submeti-me a exame de campimetria computadorizada que resultou em hemianopsia homônima esquerda congruente (jamais esquecerei essa sequência de palavras). Recentemente repetido o exame (no mesmo aparelho, diga-se), o diagnóstico sofreu sutil alteração: quadrantopsia homônima esquerda congruente, Seguramente, é o que mais me atrapalha no dia a dia.
De resto, preciso dizer, e o faço em caixa-alta: DEVO MINHA VIDA ÀS EXTREMAS QUALIDADES PROFISSIONAIS E RAROS PREDICADOS HUMANOS DO NEUROCIRURGIÃO DR. ARI ANTONIO PEDROZO.
Passados cinco meses, lamento, apenas, a sequela na visão (descrita acima), pois atrapalha consideravelmente meus afazeres. Mas tenho esperança de superá-la e, nesse desiderato, solicito e agradeço toda e qualquer sugestão.
RJTN, advogado, Curitiba-PR