Há muitos anos atrás, no tempo em que a minha mãe era ainda uma criança, ela recebeu um apelido carinhoso de sua madrinha, devido à alegria e vontade de vencer daquela pequena menininha. Ela era chamada de espelhinho, ou seja, um espelho que refletia as pequenas coisas, com luz e intensidade.
Mesmo sem saber do seu antigo apelido, eu sendo sua filha, e observando a forma de como a minha mãe era, eu lhe dei outro apelido, que era minha “estrelinha” o que para mim ela sempre me trazia de volta a luz, que às vezes se escondia tão fundo, e tão longe, na criança que fui, na jovem que me tornei, na mulher que sou, e muitas vezes precisei daquela estrelinha, que sempre me trazia para a realidade da vida, me fazendo sentir o calor do sol, me mostrava às mudanças da lua, e assim me ensinava como tudo pode brilhar novamente, e esta é a minha admiração pela minha querida mãe. E ela por mais que estivesse apagada, sempre tinha uma chama nem que fosse pequena, para ser alimentada, sempre virava um clarão de luz, sobre tudo, e sobre todos...! Não há como negar que naquela meiga pessoa, existia uma forte e grande mulher.
Mesmo que o meu tempo, o de agora que me remete ao um longo processo de ser pratica, e continuamente calma, tentando me resguardar ao Maximo, rezando diariamente para que a minha mãe melhore dia após dia... e assim vou lembrando e vou repassando toda a minha vida como se fosse um filme, com todas as coisas melhores do mundo de quando eu precisava e a tinha sempre por perto... como era bom! até mesmo as implicações que ela sempre teve comigo eu sinto saudades, deste tempo que foi ontem mesmo, e que em dois tempos, tudo mudou...
Ai!!! Os meus pensamentos, a maior parte do tempo, que mesmo distante fisicamente, eu não consigo tirar da minha cabeça, que estou falando da minha mãe, ah! Minha querida mãezinha, que requer os cuidados dos filhos, que requer tudo que uma criança precisa. O carinho, e amor, que ela sempre nos deu, hoje é a prova, não é nada pedido, e não chegam a ser nem de longe tudo que ela fez por nós, e não se trata de retribuir, não se trata de troca, porque quando nossa mente e corpo são saudáveis, parece que somos eternos, e de repente tudo pode ser mudado, como num piscar de olhos...
Tento ir me remodelando com esta nova realidade que tenho, sou uma filha, que aos poucos começo a tomar o lugar de que era da minha mãe, sou eu que lhe dou banho, lavo o seu cabelo, e coloco suas roupas, dou-lhe sua comida, notei que ainda é tão bonita, sem maquiagem, tem as feições tão lindas, tem seu corpo bem cuidado.... coisas que são tão básicas, para qualquer um de nós passa sem vermos que a vida é tão valiosa!
E eu me pergunto meu Deus, como pode ser assim?!
Sinto que a necessidade dela é tão real, que a deixa a ser novamente, uma criança de 80 anos, que teve um AVC, que se esqueceu de tudo, às vezes volta, e me olha como se compreendesse, não sei se chega a me perguntar ou afirmar, quando diz meu nome, e ainda diz que sou sua filha, e eu fico tão feliz, por pequenos momentos, e no meu intimo eu sei que são pequenos e mais que valiosos instantes!
Rezo para que a cada dia ela possa ainda ser a minha mãe, maezinha de sempre.
Mas na maioria das vezes, ela não me reconhece e não tem nenhuma ligação comigo, e eu sofro por vê-la assim, e como sofro... por não ter mais aquela “estrelinha” perto de mim. Meu pequeno espelho, meu espelhinho querido, que ria de tudo, porque queria transmitir o melhor que ela podia me dar. Aquela mãe que trazia bondade e sabedoria em suas palavras, em seus pensamentos rápidos, e em sua memória perfeita... Aí, aí, aí! Como quero a minha mãe de volta! Como quero que a minha “estrelinha” volte a ser luz!
DMDA
01/09/2010